Já se passaram mais de quatro meses desde que foi informado o primeiro caso positivo de covid-19 aqui em Ruanda. Por um lado, é normal que uma nova enfermidade, que se propaga com velocidade pandêmica, assuste toda a humanidade e a cada país afetado em particular. Mas, por outro lado, com um olhar perspicaz, é muito provável reconhecer alguns aspectos positivos particulares, neste tempo de pandemia.
Dentro de um campo de refugiados, este período nos ajudou a redescobrir o denominador comum de todos os seres humanos: fomos criados à imagem de Deus. Juntos entendemos que os Pobres, os ricos, as autoridades político-administrativas e religiosas estão todos em igualdade de condições na preocupação mútua de proteger nosso bem comum, boa saúde para todos; somos responsáveis unos pelos outros; somos defensores da vida, da nossa própria e dos demais, assim como da humanidade em seu conjunto.
Este tempo de crise sanitária e econômica também nos faz pensar numa possível transformação do individualismo para o altruísmo positivo. Que possa dizer que eu estou bem quando meu próximo está bem. Que desejo para o próximo a saúde que eu também disfruto. É uma interdependência positiva que esta pandemia nos inspira.
Neste momento difícil, também vimos pessoas que carregam suas cicatrizes com dignidade; pessoas que sofreram, mas continuam sorrindo; pessoas que sofrem todo tipo de escassez, mas que continuam sendo amáveis; pessoas que estão decepcionadas, mas que seguem mostrando seu bom coração.
Tudo isto me fez compreender que a pessoa condenada a viver nas condições mais difíceis, costumeiramente se transforma na pessoa mais linda e amável.
Gostaria de aproveitar desta oportunidade para dar graças a todos os que colaboram em nossa vida aqui no acampamento Mahama, durante este período de covid-19, especialmente a Aliança FamVin para os sem-teto.
Padre Henri Matsinga, CM, Ruanda
Este artigo foi publicado originalmente como parte da série “Lições aprendidas durante a pandemia” no site da Famvin.