Segundo a UNICEF, estima-se que há 100 milhões de crianças sem-teto no mundo e 365 milhões de crianças vivem em situação de pobrezaextrema, lutando por sobreviver com menos de 1 dólar e 90 centavos por dia. Crianças que crescem empobrecidas muitas vezes com falta das necessidades básicas como alimentação, saneamento, habitação, cuidados médicos e educação. As crianças também têm o dobro de probabilidades de viver na pobreza que os adultos e são mais vulneráveis aos seus efeitos. [i]
Em Kitale, Quénia, tem existido uma tentativa para descobrir o número de crianças e jovens adultos vivendo na rua: de acordo com a Child Rescue Kenya, o governo local e a polícia, há aproximadamente 700 crianças vivendo na rua. Enquanto que as crianças e jovens incluídos nesta contagem foram arrolados em momentos e lugares específicos, é importante perceber que esta não é a realidade completa,-nós podemos asumir que há crianças que não foram contadas por inúmeras razões, como a segurança e a falta de acesso às ruas e prédios.[ii]
Uma observação interessante da contagem das pessoas sem-teto na rua foi que havia mais meninos que meninas vivendo na rua. Para isto, podem existir várias razões, desde as crenças culturais até a ruptura das dinâmicas familiares. Por exemplo, nos casos em que um pai deixa a família, ou se uma criança nasce fora do casamento e a mãe se casa ou se casa novamente, os meninos apresentam uma responsabilidade ao longo prazo não apenas de cuidar, mas também pela expectativa de que o pai deve fornecer a terra para os filhos homens. Pelo contrário, as meninas são consideradas com frequência como um investimento já que a família terá benefício mais tarde quando esta casar.[iii]
Em Kitale, as Filhas da Caridade apoiam as necessidades dos meninos de rua com o seu projecto“Upendo Street Children Project” (USCP), parte da Campanha das 13 casas.
Em 2020, as Filhas da Caridade começaram o projecto para responder a falta de serviços para crianças de mais de 14 anos. Na época, haviam 4 centros de acolhimento na cidade e nenhum deles atendia aos beneficiários de 15 aos 18 anos.
As Filhas da Caridade abriram um centro de acolhimento e um centro de resgate e reabilitação, criando um ambiente seguro que protege às crianças dos perigos da rua e lhes garante um futuro seguro através de programas educativos e de treinamento.
Os beneficiários são meninos sem-teto que passam as noites na rua e nas varandas da cidade de Kitale. O USCP tem sido benéfico para cada um deles- em 2022, 30 meninos reintegraram-se ao sistema de ensino público (primário e secundário), e um total de 13 beneficiários realizaram vários cursos professionais, como cabeleleiria, pintura de veículos e culinária. Também são dedicadas muitas horas para reestabelecer as ligações entre os meninos e as suas famílias, e para criar as condições para que estes possam receber de volta as crianças. Hoje, 25 meninos já foram reunificados com as suas famílias.
Como parte de uma nova campanha sobre o trabalho infantil e tráfico de crianças, as Filhas da Caridade têm realizado 4 sessões de treinamento sobre prevenção e advocacia, e um programa de rádio. A campanha recebeu um amplo apoio local e a rádio local partilhou as histórias dos meninos de rua. A campanha é parte dum programa anual, “Home First” (Primeiro o lar), que busca concientizar às crianças e às suas famílias, à comunidade e ao governo local sobre as causas da situação dos sem-teto na rua e os seus efeitos sobre as crianças e famílias.
Para conmemorar o Dia Mundial dos Sem-teto, queremos partilhar convosco uma destas histórias de um dos seus beneficiários, Rajab, que agradece ao “Upendo Street Program” pela ajuda para sair da rua e dar os seus primeiros passos em direção a um futuro brilhante.
Entre os 12 melhores estudantes: Rajab conquista a sua viagem fora das ruas
Desde muito jovem, Rajab Abdalla foi afastado dos seus país e foi a viver com a sua avó que era alcólatra ou tinha dependência de álcol. Apesar desta difícil situação, a sua mãe e a sua avó conseguiam trabalhos informais para manter a ele e aos seus irmãos. A mãe de Rajab não demorou em se mudar para Nairobi a procura de trabalho seguro para sustentar a família, mas não teve sorte. Quando o Covid-19 chegou, o desemprego afetou a toda a família- sem ninguém para pagar as propinas da escola, Rajab desistiu e começou a viver na rua aos 15 anos.
Quando os trabalhadores sociais resgataram Rajab, ele tinha uma ferida na sua perna, mas com a ajuda das enfermeiras e dos trabalhadores sociais, depois de vários meses de tratamento, ele se recuperou completamente.
No Upendo Street Children Project, Rajab encontrou um ambiente acolhedor onde participava em actividades diárias e recebia aconselhamento o que lhe ajudou a sentir-se melhor. Rajab progressivamente começou a se abrir e foi capaz de partilhar a sua história com os trabalhadores sociais sobre como ele acabou vivendo na rua. Os trabalhadores sociais tentaram várias vezes contactar a sua mãe mas sem sucesso. Mais tarde souberam que ela tinha saído do país para procurar emprego.
Graças ao apoio financiero do centro, Rajab tem conseguido voltar à escola. Este ano, Rajab apresentou-se ao exame nacional de Educação Primária (Kenya National Exams KCPE, Kenya Certificate of Primary Education) e foi apurado entre os 12 primeiros. Após completar a sua educação primária onde obteve bom desempenho, o Programa continuou apoia-lo e garantiu a sua admissão na Escola Secundária (St Columbans Secondary School onde ele estuda secundária). Ele vive agora com a sua avó e ele é sempre encorajado a voltar ao Centro nas férias,para que as Filhas possam continuar o aconselhamento e acompanhamento.